De um modo geral considera-se que os ciúmes se encontram em
estreita correlação com o amor de um
sujeito a um objeto (o objeto amado em termos gerais; em concreto, a pessoa
amada que, neste contexto, é objeto de ciúmes). Dizendo-o metaforicamente, é
frequente - ou melhor, tem sido frequente - quantificar o amor pela pessoa
amada mediante a intensidade dos seus ciúmes, chegando-se ao ponto de muitas
vezes se duvidar do amor de alguém que diz estar enamorado e não sente ciúmes
em relação ao objeto do seu amor (Amor sem ciúme, não é amor, Léautaud);
ou de outra forma, "provocando-se ciúmes"
ao enamorado para incrementar o desejo do objeto amado e que se consideram
equiparáveis à intensidade do amor.
Esta "teoria" dos ciúmes é partilhada por quantos se sentem ou julgam sentir amados pelo sujeito ciumento: é-lhes gratificante, nesses momentos, transformarem-se em dominadores da situação e manipulam o ciumento com o seu galanteio. Alem disso, é vulgar que usem de algum tipo de chantagem e sem o expressar se façam “comprar” por ele colocando o seu preço cada vez mais alto. Não há duvidas que algumas pessoas adotam uma estratégia comportamental bastante eficaz para que surjam ciúmes no parceiro.
Por outro lado, muitas vezes e, na sua maioria, o objeto de desejo converte-se num autentica vitima do ciumento (numa relação que dura anos e que já não é inspirada pelo desejo do objeto e que se tem constantemente ao lado) não sendo esses ciúmes inspirados pelo amor, mas sim por outra questão. O que inspira os ciúmes não é o amor mas sim o ódio, pois as vitimas dizem ter motivos suficientes para sentirem que o ciumento não os ama, e que fora dos momentos de angustia suscitados pelos ciúmes sentem e demonstram uma verdadeira indiferença afetiva pelo outro. É esta a dinâmica dos ciúmes numa relação triádica uma vez que só se pode falar de ciúmes quando aparece um terceiro elemento, o rival que compete com o ciumento pela propriedade do objeto amado. Não raras vezes o ciumento alucina essa relação, que faz parte da sua imaginação, conduzindo-se à loucura a si e ao outro, num delírio psicótico destrutivo.
A loucura é uma forma de existência. Como é o da prudência. Mas além disso, é um projeto de existência para o louco e, por isso, a sua razão de viver, o que dá sentido à sua vida. Assim, só sabe existir desta forma, tentando encontrar em todos os gestos do outro motivo que justifique o seu ciúme e, quando o louco encontra motivos para a sua loucura tudo fica menos angustiante e a vida passa a ser mais suportável.
Não é concebível amar - desejar a posse total de alguém - sem a angústia que suscita a insegurança em relação à própria posse. E também a ulterior angústia de que esse objeto, que neste momento cremos possuído, porque declara amar-nos, possa perder-se posteriormente, quer porque deixe de amar-nos, quer, o que é pior, porque, além disso, nos possa ser subtraído por amor a um terceiro.
Toda a relação, desde a mais precoce (com a mãe) requer segurança, a base da construção futura da personalidade. Somos mais ou menos seguros, conforme o que experimentamos ao longo dos nossos primeiros anos de vida. Se tivemos relações de segurança com as nossas figuras de referência então seremos adultos seguros. Se isso não aconteceu, poderão estar criadas as condições para mais tarde sobressair uma estrutura de personalidade insegura, ciumenta e maltratante na relação com o objeto amado nas relações adultas.
No entanto, as nossas relações na vida social são quase sempre baseadas em graus de confiança mínima, mas que não apresentam níveis de desconfiança exacerbados. Podemos assim, mediante essa confiança mínima, realizar coisas e estabelecer relações sem que nos sintamos perseguidos ou ciumentos. Mas, o sujeito ciumento apresenta graus de desconfiança que chegam a rondar a paranoia, quando pensa que perdeu a posse do objeto. Não é o pensar que não é amado que causa os ciúmes, mas sim a perda da posse do objeto (com imagina ter uma relação fusional) isso sim é enlouquecedor, podendo em grau extremo, quando o ciumento (aplica-se a ambos os sexos) alucina e passa para estados psicóticos levar à morte do objeto e do sujeito num ato de loucura. Os crimes passionais têm por base uma estrutura de personalidade paranoide e psicótica onde a desconfiança, a incerteza e a insegurança crescem dia a dia, até à passagem ao ato: a morte do objeto de deixa assim de pertencer ao outro.
Não há ciúmes normais. Os ciúmes são anómalos ainda que sejam frequentes e pouco intensos. Por mais frequentes que sejam nas relações interpessoais, especialmente os que se revestem em relação amorosa, são sempre reveladores de uma situação não superada pelo sujeito. Acima de tudo é uma situação crónica que vai subindo a gradação dos ciúmes, insuperáveis e incuráveis na sua maioria, por não serem considerados pela sociedade uma situação de doença. É uma doença. Não é só considerado doença a partir de um certo grau, aliás quem tem autoridade para falar disso são as vitimas que sabem quando já não suportam mais, mas essas, raramente vão a consultas de psicologia ou psiquiatria para que possam falar disso. Amor, ciúmes, loucura e morte estão separados por muito pouco, coexistindo na vida de muitos casais de todas as orientações sexuais, tornando-a num inferno onde por vezes não é possível escapar, levando à morte lenta de vidas que ficam suspensas no delírio de alguém. Se é vítima ou portador de ciúmes incontroláveis procure ajuda, ainda pode estar a tempo de interromper o ciclo patológico de amor. A terapia de casal e individual é uma solução para problemas ao nível da relação de casal.
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