Descobrir que o pai trai a mãe ou o contrario é uma situação
aterradora para qualquer criança ou adolescente e até mesmo para um adulto. O
conflito de lealdade aparece misturado com a mágoa e com a raiva. O pai traiu a
mãe (ou o contrário), mas se o filho ou filha for adolescente, também se sente
traído. Na adolescência é necessário os pais terem uma relação sólida para
darem segurança ao jovem. Se a traição acontecer numa fase em que o pai é muito
importante e idealizado, então é um desgosto enorme para a criança, pelo seu
egocentrismo pode até pensar que a culpa foi sua. Portanto, é sempre uma situação
que envolve muito sofrimento seja qual for a faixa etária do filho ou filha.
Optar por não contar põe o adolescente numa situação em que
se sente que está a trair o pai ou a mãe. Se conta, está a trair o progenitor
que cometeu o acto e a situação não é melhor. Este conflito é comum em
situações que me tem chegado ao consultório. Em ambas as situações os
adolescentes ficam muito abalados emocionalmente, adoecendo por vezes, sem que
a família desconfie do que se passa, sobretudo quando esse segredo é guardado a
sete chaves no seu interior. Em algumas situações é o medo de perder os pais,
perder o seu afecto, que leva a que o adolescente não confronte a família com a
situação. Em alguns casos, a traição é consentânea, ou seja, o traído sabe, mas
finge que não sabe para preservar a familiar, por dependência económica, por
razões que se prendem com o funcionamento interno da pessoa entre outras
situações. O único que não sabe é o adolescente.
Dizia-me um dia uma
adolescente acerca da traição do pai à mãe “ a minha mãe perdoou mas eu não
consigo, como é que eu vou confiar num homem um dia? São todos iguais.”
E é este tipo de dilemas que se levantam. A confiança no
progenitor perde-se, o adolescente sente-se traído e preso num conflito que não
é seu e o seu futuro amoroso poderá estar comprometido.
Uma mulher adulta em
terapia dizia muitas vezes “ eu não consigo suportar a traição, a minha mãe
traiu o meu pai durante anos e eu assisti a tudo calada, sofri imenso, mas não
queria ficar sem a minha família, mas não suporto olhar para ele, faz-me
lembrar o que eu passei”.
O que é dos pais não diz respeito aos filhos, nomeadamente a
relação dos dois, é saudável que a relação esteja limitada internamente. No
entanto os filhos são sempre muito atentos à relação dos pais, é um modelo para
a sua vida futura. Quando um adolescente ou adulto jovem se vê confrontado com
a situação de traição do pai ou da mãe e melhor atitude é confrontar o
progenitor implicado e imputar-lhe a responsabilidade de resolver ele ou ela a
situação. Assim, fica liberto internamente e não guarda para si a
responsabilidade do segredo, ou de se sentir desleal com a mãe ou o pai. O
ideal seria o traidor resolver a
situação da melhor forma. A melhor forma não existe em compêndios, é sempre
adaptada á situação, à família e às próprias pessoas. Cada um encontrará a
forma mais adequada de resolver o dilema.
Nunca se deve pressionar a (o) jovem a contar. O que
acontece muitas vezes é que a descoberta dessa traição é no seio da sociedade,
nomeadamente em cidades pequenas em que todos se conhecem. Há sempre alguém,
muito bem-intencionado que quase pressiona a(o) jovem a faze-lo. Essa é uma
decisão que não compete a terceiros, quanto muito ajudar a perceber sentimentos
e libertar o filho(a) dessa responsabilidade. O que se passa entre os pais é
deles, embora diga respeito ao filho(a). Fingir que não sabe poderá trazer mais
conflitos, por isso confrontar o pai ou mãe é sempre a melhor opção e deixar
essa responsabilidade para os dois resolverem. Claro que uma situação de traição
na família deixa sempre uma marca nas relações futuras do adolescente. A
insegurança nas relações futuras e a desconfiança poderão ser sombras que
ficaram dessa altura. Quase sempre a melhor opção é procurar ajuda
psicoterapêutica para ajudar a separar e compreender as coisas dois pais das
suas. Aconteceu aos pais, não quer dizer que lhe vá acontecer. As pessoas e as
situações são diferentes.
Quando a criança é pequena, é diferente. Quase sempre sabe
pelo pai ou pela mãe e atribui muitas vezes a culpa a si própria. Isso acontece
devido ao seu egocentrismo, próprio da idade e ai cabe ao pai e mãe fazer com
que se sinta segura e certa que os pais continuam a gostar dela. Quando a criança é pequena o que acontece com
mais frequência é o pai ou mãe traído tentar desviar a criança do convívio do
outro, utilizando a criança para retaliar. Situações dessas devem ser evitadas
porque deixam a criança presa no conflito a quem ser leal, alem de muitas vezes
atribuírem a culpa a sim nomeadamente se a criança tem menos de 9/10 anos e
ainda não consegue descentrar-se de si própria. Nestas idades convêm deixar
claro que o pai ou a mãe, caso se separem em consequência da traição, gostam da
criança, apesar de não gostarem mais um do outro. Nunca fazer chantagem com a criança
e dizer coisas do tipo “ se vais com o pai/mãe já não gosto de ti” ou “ a
mãe/pai tem outra pessoa, já não gosta de nós”. São frases deste género, ditas
em momentos de dor e raiva, que vão criar problemas emocionais na criança,
sobretudo se forem ditas de forma continua.
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