Isabelle Caro, modelo anoréctica . Falecida em 17 de Nov. de 2010
O
corpo da mulher como ideal de beleza tem sofrido ao longo dos tempos, diversas
imagens com aspectos mais ou menos valorizados. Esses aspectos estiveram sempre
relacionados com a quantidade de massa
adiposa considerada bela para a época. Em épocas passadas as formas cheias
das mulheres aparecem muito valorizadas nas pinturas renascentistas. As
mulheres foram desde sempre o ideal de beleza enaltecido pela pintura e literatura
nas diversas culturas existentes no nosso globo.
Actualmente a relação entre a mulher e o seu
corpo tornou-se mais evidente, uma vez que a exigência de um corpo magro,
esquálido por vezes, entendido como um padrão de beleza recai principalmente
sobre o sexo feminino. A preocupação com o corpo tornou-se uma manifestação
frequente nos relatos clínicos, centrando-se na imagem corporal e se estão mais
ou menos gordas. Por consequência vem a preocupação com a comida e uma batalha
com exercícios físicos, dietas e contagem de calorias. Evidentemente que nem
todas as mulheres que fazem isto sofrem de anorexia, no entanto existem as que
vivem uma autêntica tirania da magreza,
suprimindo completamente os alimentos, causando sérios danos físicos e psíquicos e imenso sofrimento para elas e para a
família. Se são os ditames da moda propagados pela comunicação social ligada ao
meio os responsáveis pela disseminação desta imagem de beleza que podemos
apelidar de cadavérica, ou uma doença que se esconde por detrás de um padrão de
beleza, o facto é que uma doença mortal quando não tratada. Podemos descreve-la
através de características bem especificas. A anorexia nervosa tem início no princípio
da adolescência e atinge na maioria o sexo feminino, existindo também nos
rapazes mas em menor percentagem. É reconhecível pela insistência que as
pacientes apresentam em manter um peso abaixo do padrão de normalidade, que é o
resultado da privação alimentar apesar de sofrerem terrivelmente com a fome.
Esta doença começa geralmente a partir de uma dieta em que são restringidos
muitos alimentos considerados “ alimentos
que engordam”, conduzindo com o decurso da doença a uma perda de peso muito
acentuada apresentando a adolescente ou mulher jovem um corpo esquálido e quase
andrógino. Aos poucos passa-se a viver exclusivamente em função da dieta, da
comida, do peso e da forma corporal, o que dificulta o convívio social,
tornando-se este por vezes inexistente.
A intensa ligação com a comida, em alguns casos, torna o hábito alimentar cada vez mais secreto, bizarro
e ritualizado, ao ponto de por vezes, ainda no início ninguém se aperceber do
problema a não ser pelo facto da adolescente ou mulher estar cada vez mais
magra. Em estados muito avançados as pacientes deixam de fazer a sua vida
normal, quase sempre por incapacidade física, levando a internamentos muitas
vezes com estados muito debilitados, que podem ser fatais, pois o corpo
desnutrido deixa de funcionar levando ao colapso de órgãos vitais, tais como o
coração e os rins. Quando as adolescentes resistem à vontade de ingerir comida,
tal é sentido como um triunfo, mas se pelo contrario não o conseguem fazer quer
por imposição da família, ou aspectos sociais, então sentem-se tristes e
deprimidas, levando a hábitos de esconder comida para não a ingerirem, não se
sentarem à mesa com a família com a desculpa de estudar e irem comer para o
quarto ou outros afazeres urgentes, ou então na impossibilidade de restringir
os alimentos provocarem o vomito para controlar o peso.
Esta
doença não contudo um produto dos dias actuais ao contrário do que se possa
pensar, data de 1689 a primeira descrição na literatura médica sobre pessoas
que rejeitavam alimentos, no entanto devido à facilidade de comunicação é hoje
mais visível. Outras descrições são mais anteriores datando à idade média, da
qual existem documentos referentes aos jejuns de raparigas que na tentativa de
escaparem a casamentos forçados se privavam de alimentação ao ponto de perderem
os contornos do corpo e caírem doentes e assim fazerem o noivo desistir do
enlace.
A
ideia que a anorexia é uma doença de causas orgânicas tem sido passada de
alguma forma por quem que encontra explicação para tudo no biológico. No
entanto está provado desde há algum tempo que a anorexia é uma doença
psicológica que se traduz depois em manifestações físicas e psicológicas. Tal
confusão, que traduz a anorexia numa doença apenas do comportamento alimentar,
pode ser extremamente perigoso, pois pode conduzir à eliminação dos sintomas
físicos, pela ingestão de alimentos e descurar a parte psicológica verdadeira
causadora da doença. A anorexia é uma doença do foro emocional, em que os
afectos estão perturbados por isso incapazes de deixarem o corpo funcionarem
levando a comportamentos de oposição pela retirada voluntária dos alimentos,
virando ao que parece uma raiva surda contra si próprias que faz as
adolescentes definharem perante os olhos dos pais e amigos, como se através de
um corpo magro exibissem o sofrimento e o horror da sua vida interna. De
salientar que esta doença requer ajuda especializada, envolvendo uma equipa multidisciplinar
onde o acompanhamento psicológico psicoterapeutico é fundamental para o
tratamento desta doença. Quando não tratada pode levar à morte como aconteceu à modelo Isabelle Caro em 17 de Novembro de 2010. Isabelle Caro ficou conhecida por ser uma modelo anorectica, como aliás documentam as inumeras fotos disponiveis na net.